Manaus

Trabalhadores que fazem o Carnaval temem cancelamento dos desfiles

Com a confirmação da nova variante Ômicron na capital amazonense e com o aumento no número de casos de Covid-19 no Amazonas, diversas medidas de restrição voltaram a se intensificar. Uma delas envolve a realização do desfile das escolas de samba em Manaus. Os trabalhadores da cultura e que atuam com o Carnaval temem que o evento seja cancelado e oferecem projetos alternativos para ajudar a classe artística. 

O cancelamento da realização de festas e dos blocos de rua durante o Carnaval 2022 pela prefeitura de Manaus e o novo decreto do governador Wilson Lima a respeito da suspensão de grandes eventos, anunciados na última sexta-feira (7), despertaram incertezas na classe carnavalesca da capital.

Os trabalhadores das escolas de samba lançaram uma carta aberta na última terça-feira (11),  a qual afirmam temer que o tradicional desfile seja cancelado pelo segundo ano consecutivo. 

“Nós, da Comissão da representatividade dos artistas proponentes, queremos deixar claro sobre a nossa preocupação extrema com a segurança sanitária, a garantir tranquilidade e bem-estar da população em razão da atual situação pela qual estamos passando, com o crescimento de ocorrências da transmissão da Covid-19, porém, acreditamos também que, junto às autoridades competentes, possamos buscar alternativas à pratica salutar a garantir de forma efetiva, o emprego e renda dos artistas envolvidos com os desfiles das escolas de samba”, diz a carta.

Conforme o documento, a comissão ressalta que diversos trabalhadores das escolas de samba já estão com dificuldades financeiras e seriam ainda mais atingidos sem a realização do evento. Também acrescentam que estão dispostos a mostrar soluções e alternativas por meio de projetos que contemplem os artistas. 

Impactos

Para o diretor de Carnaval da Vitória Régia, Fabrício Nascimento, o cancelamento do Carnaval causaria um grande impacto para o setor da cultura, pois afetaria uma cadeia de produção que ficaria sem sua renda. 

“Estamos em uma situação lastimável porque ano passado não teve Carnaval, as pessoas ficaram à míngua. O dinheiro arrecadado no Carnaval vai ser distribuído entre vários artistas, desde carpinteiro, ferreiro, pintor, escultor. Você multiplica isso por 10 escolas e vê que impacta muita gente. Então, o Carnaval sente sim. O povo do Carnaval e da cultura sente o impacto de imediato como se fosse uma explosão de uma bomba e o pessoal da cultura estivesse na primeira fileira para sentir a porrada”, afirma o diretor de Carnaval da Vitória Régia.

Também ressalta que não apenas o sustento de muitos trabalhadores será prejudicado, como também o histórico cultural presente na memória e costume da população que vive nos bairros tradicionais de Carnaval em Manaus. 

“Não é uma questão só de dinheiro, é uma questão de alma e de sentimento. A Praça 14 de Janeiro é um bairro tradicional da Vitória Régia e está lá há 45 anos fazendo Carnaval. Tem pessoas envolvidas com o samba há 45 anos e elas sentem demais. Não é só o financeiro que é afetado, mas afeta também nosso emociona. Mas, a ciência em primeiro lugar. Se a ciência disser que não é para ter, paciência. Vamos continuar lutando para sobreviver.”, diz o sambista. 

Em relação à realização do Carnaval online na capital, Fabrício diz que as escolas de samba vem o modo virtual como uma alternativa para que o dinheiro possa circular entre os artistas.

“Vai ter dinheiro sendo circulado para as pessoas que precisam trabalhar. Porém, é complicado fazer um desfile das escolas de samba com 3 mil pessoas sem ter o público. Acho que poderia liberar pelo menos 10% da arquibancada para dar pelo menos um astral.  Mas, se for para não ter público as escolas também topam porque precisamos movimentar dinheiro e ajudar os artistas.

Conforme o secretário Alonso Oliveira, a realização do evento tradicional das Escolas de Samba em Manaus, que acontece no sambódromo, é decisão do Governo do Amazonas. Ainda informou que a prefeitura atua apenas como apoio.

“Com relação às escolas, o prefeito resolveu suspender o prazo para que agora, no dia 15, o prefeito possa anunciar essa questão do apoio financeiro às escolas de samba”, disse o secretário.

Na última terça-feira (28), o governador Wilson Lima anunciou que a realização do Carnaval aconteceria sem público e de forma online. A confirmação de eventos abertos ao púbico vai depender do número de casos da covid-19 nas próximas semanas.

Riscos

Por sua vez, a confirmação da variante Ômicron em Manaus tornou o cenário ainda mais perigoso para a concretização do Carnaval. Conforme o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz do Amazonas (Fiocrus-AM), os riscos para a saúde pública são altos.

“Há muitos riscos, sobretudo de novos e explosivos contágios. No entanto, não se espera algo parecido em termos de internações e mortes. Mas, ainda assim, representaria adoecimentos e mortes evitáveis, além de gastos desnecessários e mais sobrecarga no sistema de saúde amazonense”, explica o epidemiologista.

Diante da nova variante, Orellana afirma que a melhor decisão seria considerar o cancelamento do Carnaval, ainda mais se as infecções da Ômicron e outras variantes ainda progredirem nas próximas semanas. “Infelizmente, na prática, não existe a possibilidade de Carnaval seguro”, diz.

“Talvez a única forma de garantir o mínimo espalhamento viral durante o Carnaval, seja com atividades folclóricas sem público ou grupos de participantes altamente reduzidos”, afirma o epidemiologista.

A diretora da Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas – Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) também frisa a importância da população continuar seguindo as medidas de proteção individual e coletiva contra a covid-19 e outras doenças gripais, pois o mês de janeiro é um período de alta de casos de doenças respiratórias.

“Não é hora de baixar guarda, por isso, evite exposição desnecessária ao risco de contaminação pelo novo coronavírus e se não for vacinado, procure uma unidade de saúde para iniciar seu esquema vacinal”, alertou Tatyana.

Fonte: Em tempo

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