Profissionais das Forças Armadas relatam experiências na Missão Guamá Tocantins
Durante sete dias, profissionais de saúde da Marinha, Exército e Aeronáutica atuaram em um cenário diferente dos que estão acostumados. Desembarcaram em Oriximiná, no Pará, para atender indígenas que não falam português e vivem isolados em meio a floresta amazônica. Pela Missão Guamá Tocantins, estiveram nas aldeias do noroeste do Pará de etnias como Wai Wai e Kaxuiana, em que a maioria dos membros necessita de um intérprete para conversar com os médicos nas consultas.
Os militares envolvidos nessa missão vieram de diversas partes do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza. Mas na bagagem, levaram a mesma vontade de contribuir para o bem-estar daqueles que precisam de um atendimento de saúde.
O Tenente Médico Vinícius Pires, pediatra do Hospital da Força Aérea de São Paulo (HFASP), atendia cada paciente com dedicação e zelo. Ele saiu de seu estado sem saber com o que ia se deparar, mas a vivência com as comunidades indígenas foi marcante.
Pires foi um dos médicos que assistiu a menina com uma infecção no joelho. Ela passou por um procedimento de drenagem na área infeccionada e precisou ser removida de helicóptero para um hospital na cidade para tomar antibióticos. “A criança poderia vir a óbito se não fosse tratada. Foi uma experiência única na minha vida, que nunca vou esquecer. Me surpreendeu a agilidade da tomada de decisões para possibilitar a evacuação dela da aldeia”, enalteceu.
Foram dias intensos de trabalho, em que os militares ficaram em um alojamento no município de Oriximiná e se deslocavam de helicóptero todos os dias para as aldeias. O trajeto poderia levar até duas horas, nesse percurso, o trabalho das equipes de transporte aéreo foi essencial.
Os Pilotos e mecânicos ficaram à disposição da equipe, sempre atentos à manutenção da aeronave e à meteorologia. “Para nós, é muito gratificante participar desse tipo de missão, porque acompanhamos de perto como as populações indígenas dependem de meios e aeronaves para terem a atenção mais básica. São populações carentes e o apoio das Forças Armadas é fundamental”, afirmou o Capitão da Aeronáutica Rafael D’Amato, um dos pilotos da missão.
Os profissionais conheceram pessoas com hábitos de vida, costumes e tradições diferentes. Nos atendimentos, também se deparavam, diariamente, com doenças que, nos grandes centros urbanos, já não se veem com tanta frequência, como malária. “Foi muito bom podermos colaborar no desenvolvimento sanitário das comunidades, orientando com questões de higiene, alimentação, hábitos de vida e tratando as doenças que diagnosticamos aqui”, relatou o Tenente Médico Marcos Pádua, ortopedista do Hospital Naval de Brasília.
O aprendizado adquirido nas aldeias permitiu crescimento pessoal e profissional. Para o Tenente Pádua, na Missão Guamá, os profissionais puderam exercer a medicina em um ambiente adverso e diferente da rotina deles. A linguagem distinta, por exemplo, também foi um fator significativo durante o trabalho. “Aprendemos muito com o paciente que não fala a nossa língua. Tivemos que usar ainda mais nossa percepção de médico para poder entender o que está se passando com ele. Desenvolvemos a habilidade de comunicação e percepção do que o paciente quer passar”, explicou.
A troca cultural foi intensa e, agora, de volta as suas rotinas, cada um leva lembranças de uma experiência profissional memorável. “Levo daqui a ideia de que achamos que estamos fazendo tão pouco, mas que é muito para eles. É nossa obrigação trazer para quem não tem”, concluiu a Tenente Médica Camila Borges, nefrologista do Hospital da Força Aérea de São Paulo (HFASP).
Atendimento a comunidades indígenas
Diante da pandemia do novo coronavírus, o Ministério da Defesa, em parceria com o Ministério da Saúde, vem realizando atendimento médico em aldeias afastadas. Essa é a 18ª Missão Interministerial de Combate à Covid 19. A ação evita a necessidade de deslocamento dos indígenas às cidades em busca de assistência médica. A população na região Guamá Tocantins é de 2,4 mil indígenas. São 11 etnias na localidade nas aldeias espalhadas entre a Bacia do Rio Trombetas e fronteira do país com a Guiana e Suriname.
Todos os profissionais que embarcaram na missão, passaram por triagem médica e apresentaram o exame negativo para Covid-19. Além disso, realizaram os atendimentos devidamente paramentados com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Operação Covid-19
O Ministério da Defesa ativou, em 20 de março, o Centro de Operações Conjuntas, para atuar na coordenação e no planejamento do emprego das Forças Armadas no combate ao novo coronavírus. Nesse contexto, foram ativados dez Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), de funcionamento permanente. A iniciativa integra o esforço do governo federal no enfrentamento à pandemia.
As demandas recebidas pelo Ministério da Defesa, de apoio a órgãos estaduais, municipais e outros, são analisadas e direcionadas aos Comandos Conjuntos para avaliarem a possibilidade de atendimento. De acordo com a complexidade da solicitação, tais demandas podem ser encaminhadas ao Gabinete de Crise, que determina a melhor forma de atendimento.
Fonte: MINISTÉRIO DA DEFESA