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As mulheres guerreiras amazonenses nas batalhas e dramas do dia a dia

Aos 41 anos de idade, a amazonense Maria* reflete um pouco o que é a dolorosa e sofrida vida de boa parte das mulheres brasileiras. Pedreira e azulegista (responsável por instalar azulejos, cerâmicas e porcelanatos em paredes), ela é mãe de sete filhos e vive vários dramas pessoais. O PAWENEWS.COM entrevistou ela e outras mulheres para saber as suas dificuldades atuais em meio à esta data do Dia Internacional das Mulheres.

Os dramas dela são enfrentados por várias mulheres no dia a dia. De semblante cansado, olhar triste, ela vive em uma pequena casa de madeira em um bairro da Zona Leste, com mais seis familiares. Dois deles já foram presos pelo crime de posse de drogas e hoje estão soltos. A residência tem apenas uma diminuta área de entrada, onde há um fogão, e um outro cômodo que serve de quarto.

Há quatro anos ela teve um relacionamento fora de um antigo namoro com um conhecido chamado João*, e meses depois uma criança ao qual jura, de pés e mãos juntas, não ser fruto do caso extraconjugal. No entanto, o homem em questão diz o contrário e afirmou ser o pai da criança.

Maria* conta ter registrado a filha apenas em seu nome e sem pai. Após a insistência do suposto pai em assumir a paternidade da menor, ela, após muito relutar, assinou em conjunto a certidão de Nascimento, dizendo a mesma, para que “ele a deixasse em paz”.

O suposto pai alega que a mãe não cumpriu o acordo firmado na Justiça para que a criança passasse a frequentar a casa dele a partir dos 2 anos de idade e de passar finais de semana alternados a partir dos 3 anos. Com isso, entrou na Justiça pela manutenção do acordo e, em face do que garante ter sido relutância dela em deixar a criança ir, com o mandado de busca e apreensão da menor.

Maria* disse que vai buscar seus direitos na Justiça

O oficial de Justiça foi à casa da mãe em novembro do ano passado, mas a própria mãe afirma que não quis entregar a criança. A Justiça foi novamente à sua casa no último dia 27, desta vez com a Polícia Militar para garantir o cumprimento do mandado.

Ela relutou em entregar a criança, chorou e gritou, mas a pequena, desta vez, foi. Seu semblante cansado e triste ficou ainda mais melancólico.

Hoje, ela tenta reverter a difícil situação na Justiça.

“Preciso de ajuda, quero a minha filha de volta. Não é justo eu perdê-la. Ele não é o pai da criança. Tomaram minha filha de mim. Nós mulheres temos vez e voz, mas a Justiça não funciona como deve ser porque somos pobres”, afirma ela, que contou já ter entrado em contato com a Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), mas sem ter encontrado solução até o momento.

Detalhe: ninguém desta história fez teste de DNA para certificar a paternidade. Mas, o suposto pai tem a seu favor a certidão assinada por ele e pela mãe da criança. “O verdadeiro pai da criança está em Iranduba, e tem família. Falei com ele em 2019 para me ajudar com o exame de DNA, mas a ligação telefônica caiu pois ele está numa área rural. Não tem como falar com ele. Falei com a irmã dele pra tentar contato”, conta Maria*

“Eu gostaria de entender porque ela fala que eu não sou o pai. Ela assinou a certidão, e só com 2 anos de idade da criança ela começou a falar que eu não era pai da menina. Em fevereiro de 2019 eu fiz denúncia contra ela no Conselho Tutelar por omissão como, por exemplo, comprar mel de abelha em vez de remédios para a criança. Eu entrei na Justiça pela manutenção do acordo de forma amigável, e o juiz determinou a busca e a apreensão”, argumenta João*.

Em meio a essa batalha, uma criança de quatro anos fruto de um dos milhões de relacionamentos conturbados, e sem amor e paz, que existem no País.

Mulheres em risco

Do outro lado da cidade, outras mulheres vivem um drama diferente e que coloca em risco a vida delas. Moradores da rua Santa Inês, no bairro Lírio do Vale, Zona Centro-Oeste, estão temerosas que um desastre aconteça em face das rachaduras no rip rap construído no local.

O medo é que a estrutura na qual passa o igarapé do Gigante, um dos braços de rio da Bacia do Tarumã, desmorone e prejudique ainda mais a área que já está seriamente comprometida.

O atual período de chuvas na região amazônica aumenta a preocupação dos moradores e acende o alerta de que algo precisa ser feito o quanto antes.

As moradoras Raimunda Maia e Rosimar Alencar ao lado do perigoso rip rap

Pessoas como a dona de casa Raimunda Lopes Maia, 53, precisaram sair de suas habitações em face da estrutura de concreto do rip rap e uma das paredes da sua própria residência terem rachado. Ela mora com o filho de 38 anos e um neto de 8.

“A obra começou a rachar em 2019. Nossa situação com as chuvas se agravou. O rip rap caiu e ainda não consertaram completamente. Fizeram só uma parte e ela cedeu e colocou as nossas casas em risco. Já fomos na Prefeitura em busca de solução mas nada até agora”, explica ela, que diz ter sido orientada pela Defesa Civil do Município a deixar a residência em face do risco da habitação ruir.

Ela saiu de sua casa e passou a receber aluguel social de R$ 300 mensais por mais de 1  ano, mas acabou voltando por não conseguir mais pagar para morar em outro lugar. Ela e outras comunitárias contaram que foram à sede da Prefeitura de Manaus em 17 de março do ano passado, em busca de solução, mas que não obtiveram êxito.

“Em dezembro  eu tive que voltar aqui pra casa, mesmo com a residência rachada, porque a Prefeitura não me pagou mais o auxílio-aluguel e nem veio consertar nada. Não temos mais segurança, mas pra onde eu vou? Vivemos com medo da casa desabar mas eu não tenho condições de ir pra outro lugar pois estou desempregada”, questiona a dona de casa, admitindo estar alí “de teimosa sem outro lugar pra morar”.

Dona Ray, como é conhecida na rua Santa Inês, lembra que um morador chamado Ananias morreu há cerca de cinco anos ao cair no igarapé do rip rap e bater com a cabeça em uma das pedras da obra.

A também moradora Rosimar Alencar, 41, morava na frente do igarapé com o marido e mais dois filhos – um de 9 e outro de 20 –  , mas há dois anos foi para a casa da sua cunhada, também próximo ao rip rap. Segundo a mesma, numa área mais segura.

A antiga moradia onde ela residia com o marido e mais dois filhos encontra-se fechada e foi reaberta por ela para que a reportagem da PAWENEWS.COM pudesse constatar a gravidade da situação. Assim como na residência de dona Ray, é aflitivo abrir a porta e se deparar com uma perigosa correnteza à sua frente.

Rosimar Alencar observando uma das rachaduras da obra

“Vivi aqui até 2018 e tive que sair. Minha casa não tem rachaduras, mas meu terreno já foi todo engolido e estamos vivendo assim, a ver navios. Não é de hoje que vivemos atrás de solução. Aí veio a pandemia e complicou as coisas”, relata Rosimar.

“Faço um apelo para que a Prefeitura nos ajude. Não moramos em esgoto, mas na beira de um igarapé”, acrescentou ela.

As comunitárias contam que acionaram o Ministério Público do Estado (MPE-AM), há cerca de quatro anos, para a reconstrução da ponte do local.

Outro lado

A Prefeitura de Manaus, por meio da Casa Militar e Secretaria Executiva de Proteção e Defesa Civil de Manaus, informa que conforme verificado na Central de Emergência do órgão, os agentes foram ao local e encaminharam a demanda à Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) para a realização do plano de obras no local e para a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc) para atendimento às famílias.

*Obs.: Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados.

Texto: Paulo André Nunes |

Fotos: Antonio Lima e Euzivaldo Queiroz

Fonte: Pawe news

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