Manaus

Governador Wilson Lima determina fiscalização de equipamentos da Amazonas Energia

A fiscalização ao Novo Sistema de Medição Centralizada (SMC) da Amazonas Energia S.A. promete ser acirrada nos próximos dias. É que o Governador Wilson Lima determinou a instalação, por meio do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem), de medidores padrão do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), para avaliar o consumo de 50 equipamentos da empresa.

Agora, equipamentos serão acompanhados no prazo de 21 dias e terão os dados comparados com os aparelhos da Amazonas Energia S.A. para saber se haverá fraude nas contas de luz da população.

Por isso, a medição está sendo acompanhada nos bairros da Cidade Nova, Zona Norte; no Parque 10, Zona Centro-Sul; e na comunidade indígena Urucaia, localizada também na Cidade Nova, Zona Norte.

Na manhã desta sexta-feira (4), em uma das ações de fiscalização na rua Tukanos, ainda na Cidade Nova, o diretor-presidente do Ipem, Márcio Brito, disse que a preocupação do Governador Wilson Lima é evitar a todo custo prejuízos ao consumidor amazonense.

“Essa é uma determinação dele, quanto à fiscalização destes equipamentos. Lembrando que foram 11 mil já instalados antes da decisão judicial. Por isso, iniciamos este trabalho e vamos acompanhar em unidades consumidoras colocando um medidor padrão do Ipem e, a partir deste momento, vamos comparar essas medições por um ciclo de 21 dias. Ao final, a medição tem que ser igual ao nosso padrão. A missão do Instituto é garantir que a sociedade não seja prejudicada … Queremos saber se existe algum tipo de fraude”, afirma.

Ainda de acordo com Márcio Brito, os trabalhos realizados pelo Ipem são compatíveis com os encaminhamentos que estão sendo feitos à CPI da Amazonas Energia, na Assembleia Legislativa do Estado (ALEAM).

“A CPI também nos solicitou todas as informações técnicas e que fizéssemos esse trabalho de campo. Vamos emitir todos os laudos e os resultados serão individuais. Caso sejam encontradas irregularidades, divergências dessas medições, a empresa será autuada, terá um prazo de dez dias para apresentar uma defesa e a multa pode chegar a R$ 5 milhões”, explica Márcio Brito.

“Ilegal, imoral e inconsequente”, diz Sinésio Campos

Quem também não deixou de conferir de perto o trabalho de fiscalização realizado pelo Ipem foi o presidente da CPI da Amazonas Energia, o deputado estadual Sinésio Campos (PT). O parlamentar aproveitou o momento para conclamar a população do Estado a não aceitar o que classifica como “desmandos” da empresa. 

“A mudança de contadores tem que ser levada em consideração a lei… É o momento de dar um basta nessa empresa. Ela é que deve ao povo e está na CP… Temos, por exemplo, a taxa de iluminação pública que não é repassada às prefeituras. Então, diariamente, essa empresa está se achando acima das decisões judiciais, fazendo esses desmandos. A população não deve aceitar isso e, por isso, fez ações firmes e contundentes nas manifestações. A Amazonas Energia acha que esse Estado é sem lei. Uma empresa que foi comprada por R$ 50 mil e quer cobrar do Governo do Estado, por exemplo, R$ 500 milhões. Alguma coisa tem de absurdo nisso”, afirma.

Sinésio Campos também informou que as CPI’s Itinerantes para ouvir as queixas da população, e tomar as providências cabíveis contra os abusos nas contas de energia, estão de volta.

“Esses abusos têm que parar! Começamos as CPI’s Itinerantes do ano e a primeira foi realizada na Escola Estadual Hilda Tribuzzy, na av. Noel Nutels, bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, e vamos continuar cobrando. O que essa empresa faz com a população é ilegal, imoral e inconsequente”, desabafa.

Abaixo assinado

Outra que demonstrou indignação com os abusos nas contas de energia elétrica praticados pela empresa e se mostrou contrária à instalação dos novos medidores foi a defensora pública Carol Braz, que esteve em reunião com moradores do núcleo 15 do bairro Cidade Nova, na noite da última quinta-feira (3).

“A força vem do povo e é preciso dar uma resposta por meio de abaixo assinado contra tudo que as pessoas vêm sofrendo em decorrência da mudança no sistema dos contadores de energia”, explica.

Já o vereador Rodrigo Guedes (PSC), que vem acompanhando as manifestações contra a empresa, declarou, recentemente, em suas redes sociais, quando esteve no núcleo 13 do bairro Cidade Nova, que as autoridades precisam, agora, estar unidas contra a Amazonas Energia, pelo bem dos manauaras.

“Todos os lugares onde os novos medidores foram instalados, as contas triplicaram. Valores como R$ 2.149, R$ 1.611, R$ 1.226, R$ 1.942, R$ 1.465, R$ 960 e o povo está mobilizado e convocamos todas as autoridades a fazer algo. Isso é uma luta a favor da cidade de Manaus”, disse.

Povo x Amazonas Energia

Nesta semana, líderes comunitários, também na praça do núcleo 15, ainda na Cidade Nova, se reuniram para discutir o tema e planejar novas medidas, caso a instalação, que foi suspensa pela Justiça, retorne.

O líder comunitário Evaldo Cunha, o “Pepety”, do conjunto Renato Souza Pinto 2, esteve na reunião e foi enfático ao afirmar que a mobilização em favor da população mais carente vai continuar, inclusive, judicialmente.

“Reunimos e estamos levando conhecimento às pessoas que não sabem desse sistema e como ele estava roubando o bolso do povo, sobre a liminar que suspendeu isso, e entramos com uma ação contra a empresa, porque nosso objetivo não é só parar, mas cancelar o sistema de uma vez e orientamos a todos virem às manifestações. A gente já provou uma vez e vamos continuar. A vitória será do povo. Todos nós, líderes comunitários de várias zonas de Manaus, estamos unidos”, afirma.

Recordando o terror

Em Tempo relembra que, por meio do Novo Sistema de Medição Centralizada (SMC), que vinha sendo instalado pela concessionária Amazonas Energia, nos bairros de Manaus, as manifestações, sobretudo das áreas mais carentes da capital, começaram a explodir.

Antônio Lópes é comerciante e morador do núcleo 15 da Cidade Nova. Segundo ele, não vai deixar de comprar comida para mulher e os 3 filhos, para pagar a Amazonas Energia. “Vocês só podem querer nos destruir, Amazonas Energia. Aqui em casa, estávamos pagando R$ 300,00 e eu dei um pulo quando vi. Nos cobraram R$ 1.035. O que é isso? Minha família não vai passar fome por causa de vocês. Sinto muito”, fala indignado.

Sandro da Silva, 18 anos, mora no bairro Jorge Teixeira, zona Leste de Manaus. O estudante afirma que alugou sua primeira kitnete para começar a vida de forma independente da família. Porém, depois que viu sua conta de energia sair de R$ 53,00 para R$ 315, tomou uma decisão. “Não dá! Vou é voltar para casa dos meus pais, porque ganho pouco e, de verdade, isso está um absurdo”, disse.

No conjunto Canaranas, a população se mobilizou, juntamente com os moradores do Conjunto Fazendinha, na Cidade Nova, para impedir que a estrutura fosse montada nos postes e realizaram uma manifestação no dia 19 de janeiro. Na ocasião, o líder comunitário de Canaranas, Lívio Nascimento, afirmou que muitas pessoas ficaram sem energia elétrica, pois não conseguiram pagar os altos valores cobrados na conta de luz pela concessionária.

“Se nós não lutarmos, nós vamos retroceder e viver na lamparina, na vela, como se fosse nos primórdios, no tempo da caverna”, disse o líder comunitário.

Já no dia seguinte, 20 de janeiro, houve uma manifestação no Novo Aleixo contra o preço abusivo. No terceiro dia de protestos, um grupo de manifestantes se reuniu na Avenida Torquato Tapajós contra o aumento da conta de luz. No local, foram incendiados papelões no meio da via.

Uma nova derrota

Não somente a população que se posicionou contra a instalação do Novo Sistema de Medição Centralizada (SMC) da Amazonas Energia, mas também a Justiça. Nesta semana, a concessionária amargou mais uma derrota, quando na última quinta-feira (3), o desembargador Domingos Chalub não acatou a um novo pedido da empresa para retomar a instalação dos medidores.

Desde o dia 21 de janeiro, a Ação Popular número 0606470-41.2022.8.04.0001 conseguiu a suspensão do sistema, que deveria substituir a leitura e medição manual do consumo de energia elétrica.

Amazonas Energia nega ilicitudes

Por meio de nota, a concessionária afirma que “esta nova tecnologia implantada já é homologada pelo INMETRO e a ação do IPEM tem como propósito realizar mais uma confirmação de que não há divergências entre os resultados de medição de consumo do medidor antigo e do novo medidor, bem como constatar que o Terminal de Leitura de cada Residência apresenta a leitura correta. Neste projeto não há modificação na forma de medição, o acompanhamento de consumo da unidade consumidora é o mesmo, feito através do Terminal de Leitura Individual (TLI), instalado no mesmo local onde o medidor antigo foi retirado que se comunica on-line com o medidor de cada unidade consumidora instalado no poste”, diz um trecho do documento.

A empresa também diz que os novos medidores não provocam o aumento do consumo, pois “medem apenas o consumo realizado por sua unidade. Se sua unidade consumidora não possuía desvios ou fraudes na ligação, o novo sistema não causará nenhuma alteração na medição de consumo da energia em kWh, pois o mesmo consumo correto medido pelo medidor antigo, será feito pelo novo medidor”, finaliza a nota.

Denúncias

Abusos nos valores das contas de energia elétrica podem ser denunciados na CPI da Amazonas Energia, pelos e-mails: cpienergia@aleam.gov.br e cpidaenergia@gmail.com ou pelo número (92) 92 98466-8350 (Whatsapp). O Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem) também possui canais de comunicação para denúncias pelo e-mail ouvidoriaipem@ipem.am.gov.br e o telefone 0800 092 2020.

Fonte: Em tempo

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